1 de setembro de 2009

Dona Júlia e seu egoísmo assassino - parte2

Na puberdade, escondeu da mãe até quando “desceu” pela primeira vez, para não dividir sua vergonha com ninguém. Seu namoradinho primeiro conquistou seus direitos diante de Dona Júlia com tempo e esforço. No início ela só se permitia enviar cartas a ele, sendo que se esforçava para ser monossilábica, depois até aceitou ser tocada, mas que o namorado não suasse a mão, pois teria que lavá-las e gastaria seu sabonete de sebo de porco tão escasso.

Quando mais velha, se casou com um avarento que a conquistou não pelo dinheiro que detinha, mas sim pelo estilo judaico de reter seus fundos. Seu Adamastor, fazendeiro, foi um abuso do destino ou um absurdo da ocasião para ela. Fadada a viver eternamente só (pois ninguém agüentava seus tiques de egoísta), a vil senhora acabou por encontrar um economista com hábitos peculiares: acenava de mão fechada, torrava pão velho para não comprar pão novo, juntava restos de sabonete para fazer um sabonetão, lavava cotonete para reutilizar, guardava água do chuveiro para aproveitar no vaso, comia uma vez no dia para economizar na escovação, que era diária, cheirava a bicarbonato com limão para não sucumbir à modernidade industrializada dos antitranspirantes.

Não puderam ter filho os dois, o que foi bom para eles, pois assim não compartilhariam seu amor com mosquinha imunda alguma. Isolados na fazenda, apenas com os criados - os quais eram muito mal pagos - por perto, viveram uma vida infelizmente feliz. Quando depois de dez anos de amor próprio dividido ocasionalmente entre eles chegou, seu Adamastor resolveu dar um carro para a coroa que acreditava que o sol deveria só nascer na fazenda deles, que a chuva deveria cair quando ela bem entendesse e que se o deus cristão realmente existisse, ela seria então Maria, mas quando descobriu que não a era, resolveu se trancar por dois meses e uma semana no seu quarto de bruxa após mandar tirar todos os espelhos de perto dela, pois não queria se dividir nem consigo mesma.