2 de novembro de 2009

Dona Júlia e seu egoísmo assassino - parte final.

Nota: Seria interessante reler as outras partes, demorei pra fechar.

Na posse do seu carro novo, que era um daqueles modelos utilitários, caminhonetes, enorme, o qual foi comprado sabiamente pelo Seu Adamastor, pois sabia que com cadastro no INCRA, desconto teria na aquisição do utilitário, Dona Júlia começou a escutar música e refrescar-se no ar condicionado do carro, ela ainda não sabia como dirigir o automóvel.

Foi que um dia Dona Júlia conversando com a vizinha, sua conhecida invejosa, que atingida por um orgulho bobo, após um comentário solto da “concubina enxerida” - como se referia a ela - que resolveu aprender a dirigir. A vizinha feito perua, olhou no olho da Júlia, empinou o nariz zombeteiramente, contorceu o lado da boca e ironizou:

- Seu marido lhe deu uma bela de uma caminhonete para enfeite, não?

Dona Júlia nervosa se colocou a estudar através de umas fitas K7 que emprestou da biblioteca. “Como Dirigir em Dez Lições”. Na quinta aula já estava dentro do carro, exasperada, duplamente louca, com os olhos saltados de acordada, querendo dirigir. Dizia aos berros, cuspindo: ” Aquela enxerida há de ver, há de escutar, há de cheirar. Ela há de me notar com meu precioso presente e calar aquela boca imunda de sapa." Não lembrava como ligava o carro, como havia aprendido na lição três, esqueceu o que era embreagem, apresentado logo na lição dois. Os freios disponíveis no carro foram confundidos com o acelerador e com o câmbio. Ela então soltou o maldito freio de mão, mas sequer percebeu, embriagada de histerismo, só queria era sair dali para atropelar a vizinha. Correu em direção ao portão para abrí-lo, o carro vinha junto, descia, mas ela não reparava em mais nada, era só emoção, seu racional estava encharcado de emoção. Coração. Quando estava por "deschavear" o cadeado, a caminhonete já pegara velocidade, ela se virou e sentiu um baque no meio do tronco que a fez cair inerte com a cabeça no chão. O carro que era novo se encontrava agora riscado.

Deflorado. Desvirginado.