2 de agosto de 2009

Efêmera - Parte 1

O texto a seguir não é uma piada. É um conto, se é que posso chamar assim. Uma história quase real.


Mariana balançava a banana no ar. Balançava suavemente segurando em um dos extremos de uma generosa banana prata de cera. Balançava e desenhava círculos imagináveis no ar num certo sincronismo com as palavras que proferia ao mendigo, que olhava, faminto:

- Vem cá, vem. A banana é tua se você pegar. Vem pegar, vem.

Ela estava dentro de um carro vermelho, mas não um vermelho Ferrari, muito menos um vermelho sangue, o carro era de um vermelho maça-do-amor, um vermelho lápis de cor. Quem o dirigia era Guto, dirigia o carro do pai, o qual sempre entregava a chave na mão do menino quando ele dizia que estava a sair com as amigas. O pai se enchia de orgulho. No outro dia, como se fosse uma rotina mantida de bom grado pelo progenitor, vasculhava o carro atrás das camisinhas que havia plantado, maliciosamente, e com bastante cuidado, em diversos locais do carro. Até então, sempre as encontrou no mesmo esconderijo, trazendo um sorriso amargo ao seu rosto, um breve sorriso de merda.

Claro, onde Guto e Mariana estivessem, Patrícia e Gisele teriam que estar também. No automovel estavam os quatro. Guto mantinha o Polo, da Volkswagen a uma velocidade constante, como se o carro andasse assim como se caminha quando se está atrasado para chegar a um compromisso. Mariana permanecia estirada pela janela, com a banana a balançar. Olhava com cara de paisagem, um olhar asentimental - permitam-me o neologismo – direcionado para o mendigo.

O mendigo aparentava ser jovem, as principais características dele podem ser resumidas em duas palavras: mau cheiro. Não que o pedinte fedesse literalmente, embora cheirasse como um tísico após duas enchentes e três dias nublados com sua roupa no corpo, mas, o que caracterizava o seu mau cheiro eram seus detalhes. Barba grossa e bem espalhada, como um bom companheiro de esquerda, consegue imaginar um soviet? então imagine. Olhos enormes com a esclerótica tão amarela quanto os seus dentes, que se resumiam em seis, talvez mais, depende do que podemos considerar um dente, levando em consideração o estado de putrefação do mesmo. Seus lábios eram rachados, carnudos, tanto o lábio superior, como o inferior. Aparentava ser negro, tinha um nariz amassado, com narinas razoavelmente grandes. Sua cor de pele era parda e tinha uma volumosa quantidade de pêlos nos braços, os quais estavam duros de pó. A camiseta que usava deixava à mostra ligeiramente a sua barriga. A roupa era pequena para o seu tamanho, com uma estampa que alegorizava o mendigo por si só. Com o repentino crescimento da procura por roupas de estilo surf, diversas indústrias têxteis brotaram com criações similares com as vistas por indústrias da Austrália ou mesmo norte-america, que fomentam este mercado, porém a similaridade pára no contexto, não se atendo a minúcia. As indústrias brasileiras que buscaram plagiar a idéia de surf wear produziam camisetas com uma imagem de onda ou de um surfista ou de uma prancha ou algo que remetia a praia, a vida no mar, com uma frase escrita em inglês, que remetia a imagem estampada, raramente a frase era escrita gramaticamente correta. “No Work, Yes Lazzy”- essa era a idéia que continha na camiseta.

Tudo acontecia num posto de gasolina desta vez. Após abastecer o carro, buscar algumas cervejas de marca importada na loja de conveniência, comprar dois maços de cigarro, um pacote de chiclete sem açúcar, mas com aspartame, para enganar o cheiro do fumo, o grupo viu no sujeito barbado um bom alvo para passarem o tempo. Mariana estava no carro com uma safada ansiedade.

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